A medicina, e especialmente a Cardiologia, evoluíram muito nos últimos 60 anos, muito mais que nos últimos dois séculos. Na década de 70 aprendemos que o controle da pressão arterial (em níveis que eram aceitáveis, à época) reduzia o risco de desenvolver um acidente vascular cerebral (conhecido como derrame). Foi só na década de 80, quando me formei, que o ácido Acetil Salicílico (AAS), talvez droga mais custo efetiva já usada na Cardiologia, passou a ser indicado no tratamento de um infarto. Àquela época, a mortalidade no Brasil dessa grave doença beirava os 30% e hoje está em torno de 3 a 6% nos principais centros.
Mas essa queda drástica da mortalidade na Cardiologia só foi possível com a evolução do nosso melhor conhecimento das doenças. Demorou quase 30 anos para descobrirmos um modo eficiente de reduzir realmente o risco de ter um infarto e, consequentemente, sua mortalidade. Não bastava ter a pressão arterial controlada; era necessário parar de fumar, praticar exercícios regularmente, perder a famosa barriguinha, se alimentar melhor (em quantidade, qualidade e frequência), reduzir os níveis de glicose e de colesterol de acordo com o seu risco individual (baixo, médio ou alto) de desenvolver a doença obstrutiva arterial aterosclerótica (entupimento das artérias). Tudo isso junto, além de usar as classes certas de medicamentos, as mais efetivas, evitando ao máximo o clássico “melhoro uma coisa, mas o efeito colateral do tratamento piora outra”.
Cada paciente, mesmo com uma mesma doença que outro, tem fatores de risco, gênero ou etnia diferentes, consequentemente, com metas de tratamento distintas. Isso só é possível ser avaliado com o conhecimento dessas várias alternativas, aliado a uma investigação completa durante a consulta (anamnese e exame físico) e a solicitação de exames pertinentes, sem excessos. Essa é a Cardiologia individualizada.
Deixe um comentário