A hipertensão arterial sistêmica (HAS = pressão alta) é uma doença que pode acometer tanto jovens quanto idosos, sendo a responsável por 45% das mortes cardíacas e 51% das mortes decorrentes de acidente vascular encefálico (AVE = o derrame). A principal razão para esses números alarmantes é que a HAS é uma doença silenciosa, ou seja, não há sintomas que ajudem a identificar que uma pessoa está com elevação da pressão. As dores de cabeça, na nuca, vermelhidão no rosto, mal estar, etc, infelizmente não são sinônimos de pressão alta (PA), porque se fossem, teríamos um importante alerta que ajudaria em muito a reduzir os seus riscos.
Numa minoria dos casos a HAS é classificada como secundária, ou seja, é identificada uma causa para a elevação da pressão, tendo como exemplos mais frequentes as doenças renais, hormonais, congênitas (quando se nasce com uma alteração que acaba elevando a pressão arterial), etc. Aí poderemos vislumbrar uma cura, sendo frequente a ocorrência dos sintomas das outras doenças alertarem o paciente a procurar assistência médica e, como isso, sendo possível mensurar a pressão e fazer o diagnóstico. Porém, na maioria das vezes essa causa não existe e a HAS, quando diagnosticada, é classificada como primária, se desenvolvendo silenciosamente (sem sintomas) e sem possibilidade de cura, mas de controle e, consequentemente, evitando as suas terríveis complicações, que aí¬ sim darão sintomas, mas já pode ser tarde para evitar sequelas irreversíveis.
Importantes pesquisas nos ensinaram que quase 1/3 da população brasileira tem hipertensão arterial, ou seja, níveis de PA ≥ 140x90mmHg; devemos ter especial atenção no que foi chamada pela última Diretriz Brasileira de Hipertensão publicado em 2020 (que é um documento feito para nortear o tratamento de uma determinada doença em um país, por um grupo de médicos experts no assunto, e atualizada sempre que necessário), de pré-hipertensão (PH), ou seja, níveis pressóricos entre 130 a 139mmHg de pressão sistólica (a máxima) e/ou 85 a 89mmHg de pressão diastólica (a mínima). A importância disso é que esses valores estão relacionados ao próprio desenvolvimento de HAS e de várias anormalidades cardíacas. Dependendo da existência de outras doenças concomitantes (diabetes, insuficiência renal, insuficiência cardíaca, doença coronária, arritmia, etc) os níveis máximos da pressão ideal variam, mas sempre devemos almejar, pelo menos, valores menores que 140x90mmHg. Um grande alarde na mídia mundial aconteceu no fim de 2017 e início de 2018, quando a Diretriz Norte Americana foi atualizada, reclassificando os níveis de PH e de HAS, ou seja, seria necessário tratar já a partir desses níveis mais baixos. Hoje, isto não é considerado como verdadeiro em muitos países, inclusive no Brasil e na Europa, mas há necessidade de acompanhar esses pacientes mais de perto, talvez em intervalos menores que um ano, mesmo totalmente assintomáticos.
É por tudo isso que essa doença deve ser pesquisada ativamente, ou seja, todo médico de qualquer especialidade deve medir a pressão arterial dos seus pacientes que se considerem não hipertensos, fazendo uma importante e abrangente triagem e, se alterada, o paciente deverá ser encaminhado a um cardiologista para avaliação e tratamento.
Hoje temos muitas classes de medicamentos eficazes, sendo vários com duração de ação de 24h, reduzindo o número de tomadas ao dia e aumentando a aderência ao tratamento. Mas não podemos nos esquecer de que, uma vez diagnosticada a HAS e iniciada medicação, esta não poderá ser suspensa, nem por um dia, pois isso acarretará a elevação da pressão arterial e, se esse for um dia de azar, o seu primeiro sintoma poderá ser o aparecimento de um derrame ou infarto, já que não temos como prever qual ou quantas horas de elevação de pressão são necessárias para que essas importantes e debilitantes complicações aconteçam.
Estamos no meio de uma grande revolução na arte de tratar a HAS que vai alterar tudo que sabemos desde a época na qual descobrimos que uma pressão arterial aumentada pode matar, há muitas décadas; muito em breve, teremos aparelhos diferentes para medir e classificar os níveis tensionais em alterados ou normais, não os atuais convencionais (analógicos ou digitais) que medem a pressão periférica, mas sim aparelhos que vão mensurar de maneira não invasiva e a um custo acessível, a Velocidade da Onda de Pulso (VOP). Aí poderemos realmente usar melhor as atuais classes medicamentosas, não só para abaixar os níveis de pressão (já sabemos que não é o suficiente para reduzir todos os riscos), mas para alterar a hemodinâmica do paciente, visando reduzir de maneira muito mais efetiva as complicações decorrentes da elevação da pressão arterial. Mas isso é outra história.
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